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  • Foto do escritorJill Muricy

A Arte de VENCER na VIDA

O que determina o sucesso na vida de uma pessoa não são os limites impostos pelas circunstâncias, e sim, a determinação em lutar incansavelmente por aquilo que almeja alcançar.

Amélia Macuácua, exemplo de SUPERAÇÃO/Foto: arquivo pessoal


Ninguém nasce para fracassar, todo ser humano é capaz de mudar a própria história e escrever os capítulos mais extraordinários da sua existência.


O destino nada mais é que a soma das suas decisões cotidianas, e não uma obra do acaso.

A VIDA desde o Nascimento


A maputense Amélia Pedro Neves Macuácua, uma mulher forte e batalhadora, veio a este Mundo para ser um grande exemplo de SUPERAÇÃO para a humanidade. Ela nasceu na cidade de Lourenço Marques, no dia 16 de fevereiro de 1966, em Maputo, Moçambique, na África.


Desde muito cedo os desafios se fizeram presente na vida da africana, a mãe de Amélia, era uma adolescente órfã de pai e mãe, não possuía casa própria, por isso morava com uma prima. Amélia é fruto de um efêmero relacionamento da mãe negra com um homem branco, que não reconheceu a paternidade da filha, pois não sabia da existência dela.


Quando estava com dois meses de vida, o colchão onde a bebê Macuácua dormia com a mãe pegou fogo, ambas tiveram fortes queimaduras pelo corpo, Amélia ficou até os 18 meses internada por consequência do incidente. Até hoje seu corpo tem cicatrizes desse episódio, inclusive a cabeça.


Ao completar três anos, no distrito de Boane, um lugar muito simples, repleto de pessoas honestas e trabalhadoras, a mãe de Amélia se casou, e o casal combinou de deixar a menina com uma tia-avó em Beloluane. Na casa, moravam três pessoas: Amélia, a tia e o marido. Eles não tinham filhos, mas ela tinha vários sobrinhos dos irmãos falecidos.


Embora, a família fosse financeiramente pobre, havia harmonia e muita dignidade naquele lar com telhado de capim. Pouco tempo depois, o então tio morreu, uma sobrinha da tia foi buscá-la juntamente com Amélia para morarem em Chinonoquila, na nova moradia a frágil criança viveria os capítulos mais escuros da própria existência.

A primeira foto de Amélia/ Foto: arquivo pessoal


Começava aí os dias mais tristes da vida da menina Amélia, que, por ser filha de pai branco era mulata, e as primas dela odiavam-na por causa disso. Era torturada constantemente, mas ela não sabia contar à tia-avó que percebia tudo, porém, nunca tomou nenhuma atitude em relação àquela situação.


A valente menina foi criada à deriva, faltou-lhe a proteção necessária para uma criança que vivia sem contado com a mãe, embora, a genitora visitasse a filha ao menos uma vez ao ano., ela não conhecia o pai, e por causa disso não era registrada e não estudava.

Na nova realidade em Chinonoquila, até as roupas da criança, as primas davam fim, quando não rasgavam, as enterravam ao redor de casa. Certo dia, a tia-avó de Amélia precisou ir até a cidade cuidar de outros sobrinhos e a garota com sete anos ficou aos cuidados da tia e das nove primas. A garotada foi à roça arrancar batata doce, então elas fizeram uma sessão de crueldade com a sofrida menina.


Dores Imensuráveis


Organizaram uma roda, e colocaram a menina no meio do círculo, bateram fortemente na criança, após a surra introduziram batata nos órgãos genitais da pequenina, Amélia quase não conseguiu retirar o legume do órgão genital, então as primas o tiraram violentamente, por pouco ela não morreu de dor.

Após a cena de tortura, colocaram uma lata cheia de batata na cabeça da garota e mandaram-na ir para casa passando em frente a um sítio que tinha cães agressivos, certamente para a criança ser atacada por eles, mas os cães foram dóceis e não fizeram nada.


Aquela situação era arrepiante, Amélia estava emocionalmente destruída em sua dignidade.


A africana ficou sem conseguir andar por alguns dias, teve infecção genital, e no dia seguinte, ainda cheia de lesões do episódio anterior, as primas levaram a menina mais uma vez à roça, dessa vez passaram pimenta nos órgãos genitais e nos olhos, ela quase ficou cega, por vários dias a criança não conseguia fechar as pernas.


Quando a tia-avó voltou da cidade, ficou sabendo da enfermidade da neta, deu até remédio para ela, mas não procurou saber o que houve, enquanto isso, a frágil menina vivia sua maior amargura em silêncio, e ninguém a defendia. Depois disso, Amélia fugiu para procurar a mãe que ela não tinha contato, se perdeu na grande Maputo, mas conseguiu achar a casa dala.


A Volta por Cima


A mãe de Amélia tentou registrar a filha várias vezes, a princípio não conseguiu porque achavam que era uma criança roubada por ser mulata, depois de muita luta, finalmente a jovem teve oficialmente o Registro de Nascimento aos 11 anos de idade, daí foi à escola pela primeira vez.


Uma adolescente guerreira, que vendia peixe frito para se manter e sustentar os estudos.

Enfermeira Amélia Macuácua/Foto: arquivo pessoal


Tempos depois, ela foi cumprir uma atividade no hospital da cidade como voluntária, se apaixonou pelo serviço, foi durante esse período que Amélia dormiu pela primeira vez em uma cama com colchão, aos 21 anos, dois anos depois fez um curso de técnico de enfermagem e concluiu com muito sucesso!


A Grande SUPERAÇÃO


Ao passar dos dias, o sol com sua inexplicável luz ia iluminando tudo, pois mesmo além das nuvens ele nunca deixa de brilhar.

A guerreira mulher construiu seu maior projeto de vida: uma linda família, casou-se e teve um casal de filhos: Assimina que é jornalista, estar em Portugal fazendo Mestrado em Jornalismo Digital e João que é Médico Oncologista, também reside em Portugal fazendo uma especialização.

Amélia e a filha Assimina (jornalista) e o filho João (médico)/ Foto: arquivo pessoal


A VIDA nos Dias Atuais


Hoje, Amélia Macuácua é empreendedora, dona de uma fábrica de processamento de farinha de milho e uma loja de cereais. Ela conheceu o pai biológico aos 44 anos, mas não foi aceita por ele. E movida pelo amor de ajudar quem precisa, foi voluntária por 20 anos em uma grande organização de ajuda humanitária internacional, na África.


São nos momento mais dolorosos da nossa vida que escrevemos os capítulos mais extraordinários da nossa existência, Amélia não guarda ódio ou rancor de todas as mazelas que lhes foram causadas, afirma que a maior de todas as conquistas foi estudar e formar os filhos.

Aos 56 anos é viúva, quando o marido morreu, os filhos dele do primeiro casamento tiveram direito nos bens que o casal construiu junto, mesmo assim Amélia não deixou de ter conforto para viver sossegadamente, batalhou a vida inteira para isso. Ela adotou uma sobrinha, filha de uma irmã que faleceu. Mora em Marracuene, distrito da província de Maputo.

Em frente a própria fábrica Xigaio Xa Amélia/ Foto: arquivo pessoal


Quem diria que aquela frágil menininha chegaria tão longe? A superação é isso, ir além de todos os limites impostos pelas circunstâncias, e ser um exemplo de sucesso para o mundo!


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