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  • Foto do escritorJill Muricy

A Canção da VIDA

Nossa vida é uma grande música escrita por nossa história, cuja melodia toca muitas pessoas, como sinal de superação.

Welington Camargo, exemplo de superação/ Foto: arquivo pessoal




Os grandes homens nascem na simplicidade, têm a vida singela e destacam-se por uma enorme força interior.


A Infância na roça


No Sítio Novo, no município de Pirenópolis, estado goiano, morava uma honrada família, composta por vários filhos. O valente casal de agricultores, seu Francisco e dona Helena, teve dez filhos (dois são falecidos).


Seu Francisco, um homem muito trabalhador, honesto, que tirava da terra o sustento da casa. Por sua vez, dona Helena, uma mulher muito sábia, cuidava de suas crianças com total dedicação.

Foi neste lar caloroso que nasceu Welington Camargo, o quarto filho do casal, gêmeo com o irmão Walter Camargo, um garoto forte, cheio de vitalidade que amava subir nas árvores do sítio com os irmãos, mesmo sendo muito pequeno.


Ele recorda o entardecer na roça, das vezes que brincava com carrapicho, do canto dos pássaros no fim da tarde ao canto do galo ao amanhecer. Era uma vida escassa, cheia de privações, mas ao mesmo tempo enriquecedora, composta de princípios e valores.


Um monte de irmãos brincando, às vezes até se engalfinhando, todos estavam juntinhos, eram muito unidos. Um sempre ajudava o outro. Welington pelo fato de ser cadeirante queria fazer tudo que uma criança normal podia fazer, pois ele sabia que era possível ir além dos limites.


Aos dois anos, ainda morando na roça, Welington sofreu com a poliomielite, o que o deixou em uma cadeira de rodas e fez com que toda a família se mudasse para Goiânia, atrás de recursos para salvar a saúde do menino. A doença estava matando muitas crianças. E o doce garoto possuía uma inteligência emocional incomum para a idade dele, nada o abalava.


Nessa época seus irmãos mais velhos já cantavam; Mirosmar ( Zezé di Camargo) e Emival (que faleceu em um acidente). Posteriormente, seus irmãos Zezé di Camargo e Luciano se tornaram a dupla sertaneja mais amada e famosa do Brasil.


Mesmo hoje, que Welington é um homem vivido, comenta com franqueza que, se pudesse, queria voltar à própria infância para reviver algumas coisas valiosas, como: subir e entrar na caixa d’água, escalar a escada correndo...


Durante à noite no sítio, como havia muita criança na casa dos Camargo, antes do sono chegar a zuada da criançada era garantida. Nos quartos havia beliche e Welington sempre dava um jeito de dormir na cama de cima, sem briga, para mostrar possibilidade de superar a limitação.


O Camargo também se recorda que certa vez o Zezé estava jogando bola e ele queria fazer o mesmo, então foi ser goleiro e conseguiu defender um gol.Nessa época, Welington,com apenas três aninhos, guarda lembranças inesquecíveis, principalmente com o irmão Emival.


Ida para Goiânia


Quando a família Camargo chegou em Goiânia, procurou imediatamente recursos para o tratamento de Welington, mas, infelizmente, foi tarde demais devido à falta de conhecimento do assunto, e o médico não conseguiu reverter o quadro. Algumas crianças que contraíram a doença na época, mesmo sem tomar vacina, conseguiram ter uma vida sem sequela após a paralisia. Mas Welington ficou paralítico, no corpo, mas a alma dele sempre foi livre.

Foi na capital do estado que ele descobriu seu talento para música; ele compõe e canta.


O Sequestro


A década de 90 foi a era de ouro para os Camargo. Aquela família que sofrera tanto nos anos anteriores, finalmente vivenciava o sucesso. Os meninos do Goiás, Zezé e Luciano, explodiram nas paradas de sucesso do país. Estavam colhendo o que passaram a vida inteira plantando. O sucesso não vem da noite para o dia, ele é uma construção, e, se você não desistir um dia, ele chega.


Logo, a família Camargo se tornou uma das mais bem-sucedidas do Brasil, e nem todo mundo fica contente com o seu brilho, avanço, voo.


Tudo começou devido a um programa de TV que Welington e os irmãos Zezé e Luciano participaram. Na ocasião, Welington foi homenagear o irmão Zezé, pois o Welington é como um filho para ele.


Desde criança o irmão mais velho sempre cuidou do mais novo, dava banho, colocava para dormir (Welington brinca com Zezé, “ já que você me chama de filho, não esquece de me colocar no testamento”).


Os sequestradores, já na intenção de fazer o sequestro, estavam assistindo ao programa e viram o amor de Zezé pelo irmão. Welington seria o refém perfeito, por ser cadeirante, já que não daria trabalho e nem tentaria fugir do cativeiro. “Seria a pessoa certa”, que na verdade foi a errada. Eles não mexeram com uma pessoa simples, mas temente a Deus.


Era quarta-feira, início da noite, do dia 16 de dezembro de 1998, que aquela guerreira família passaria por um período muito amargo na sua trajetória. Porém, o fim do episódio seria doce como o mel.


Welington e a irmã eram vizinhos. Ambos moravam em uma propriedade do irmão Zezé afastada da cidade, um terreno amplo com duas casas, milharal, plantação de mandioca e outras plantas.

Os sequestradores chegaram até a residência de Welington pelo milharal, ao entrar em casa, quatro bandidos o aguardavam na sala. Então, anunciaram o assalto.


Welington achou que realmente se tratava de assalto, pois estava com um cheque de grande valor em mãos, para comprar um carro. Inclusive, o cunhado dele que trabalhava com vendas de automóveis estava negociando a compra de um veículo para ele.


Com muita rapidez, os sequestradores o colocaram no carro e, no caminho para o cativeiro, o cantor percebeu que não se tratava de um assalto, porque os marginais não roubaram nada. Daí ele caiu em si e chegou a conclusão que estava sequestrado.


Welington ficou mantido no cativeiro em um sítio afastado da cidade, em Goiânia. Foi torturado com gestos e palavras. No quarto, sem a cadeira de rodas tentava se virar sozinho, às vezes, pedia ajuda aos bandidos, outras, ia para o banheiro se arrastando.

Era um enorme desafio tomar banho e se vestir sem ajuda de alguém. Sem contar que ele ficava deitado 24 horas por dia, o que fazia o corpo dele sentir muitas dores; pedia remédio, mas os cruéis não davam.


Os bandidos cortaram 80% da orelha esquerda de Welington, para entregar na casa da família Camargo. O ato foi desnecessário, pois em momento algum a família se recusou a pagar o resgate.


A Libertação do Cativeiro


Após 100 dias no cativeiro, em março de 1999, os bandidos receberem três milhões de reais para libertar Welington, que foi deixado dentro de um buraco, em sítio, no meio do mato. Longe de tudo e de todos, inclusive da civilização.


Welington, fragilizado com tudo que lhe tinha acontecido, lutava constantemente pela sobrevivência. Ele conseguiu sair do buraco e engatinhou bem devagarinho até a beira da estrada. Algumas pessoas passaram, mas não deram socorro. Daí passou um motoqueiro que o socorreu. Welington não tinha equilíbrio para andar de moto, mas ele conseguiu ficar em cima da motocicleta até o posto policial mais próximo.


A polícia então foi avisada. Em instantes, a libertação do forte Camargo foi a notícia mais comentada em todos os jornais do Brasil e do mundo. Welington ficou impressionado com a repercussão que o seu caso teve no país. Durante o em que esteve cativeiro, todos os dias as emissoras davam plantão para falar do sequestro.


Finalmente, Welington reencontrou a sua família; havia passado Natal e Réveillon longe daqueles que ele mais amava. Depois de recuperar a saúde emocional, ele fez seis cirurgias de reparação na orelha.


A VIDA pós Cativeiro

Mesmo em casa, dormindo na própria cama, Welington era atormentado por terrores noturno. Às vezes, acordava assustado, outras demorava a dormir; passou a ter distúrbios do sono. Até hoje tem mais sono durante o dia do que à noite. Por muito tempo ele achou que havia morrido e que estava vivendo em outro mundo parecido com o dele.

Mas não foi acompanhado por psicólogo, a terapia dele era orar a Deus constantemente.


Acessibilidade


Na vida a gente passa por aquilo que tem de passar, mesmo uma pessoa deficiente ela não deve esperar que o Mundo se prepare para ela, ela que tem que se preparar para o mundo. Welington não espera que as pessoas criem calçadas e casas adaptadas. Sempre que vai fazer um evento, fala: ”Ou coloca rampa reforçada ou escada larga para subir". O cantor goiano supera a limitação e já fez show em cima do trio elétrico: amarraram a cadeira em uma corda e o puxaram para cima (se algo desse errado, o povo não deixaria ele se machucar).


A VIDA nos dias Atuais


Welington tem uma vida bem tranquila pessoal e emocionalmente, pois sua casa foi construída sobre a rocha, e nada do que aconteceu conseguiu derrubá-la. Pai de quatro filhos, é cantor e compositor gospel, já gravou cinco CD’s. Além de palestrante motivacional, é dono de uma simplicidade incomum. Foi deputado estadual pelo Goiás por dois mandatos consecutivos.


Em novembro de 2020, seu Francisco faleceu aos 83 anos, depois de 50 anos casado com dona Helena. Foi a primeira vez em que ele a deixou sozinha. Às vezes, ela fica um pouco triste com a dor da saudade, mas os filhos estão sempre unidos. Welington teme quando ela partir, a família não ter a mesma união, pois os pais unem os filhos.


Ele não carrega mágoa ou ressentimento pelo que aconteceu, tem consciência tranquila em tudo que faz e deixa bem claro que o fato que mais o marcou foi o nascimento do seu primogênito, pois o bem sempre prevalece.


O mais importante não é o que a vida faz com você, mas que você faz com a vida.


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