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  • Foto do escritorJill Muricy

A Menina dos Patins Rosa

A dor e a saudade são fases bem delicadas na vida de alguém, às vezes, parecem não ter fim. Mas, na existência humana tudo pode ser ressignificado.

E, o Sentido que nasce da ressignificação de um fato muda completamente a vida de quem sofreu e de todos em sua volta.

Beto Vaz e Vitória Gabrielly, em 2018, pouco antes da menina ser assassinada/Foto: arquivo pessoal


Coisas desagradáveis não avisam quando vão chegar, se aproximam de surpresa e muitas vezes fazem parecer que o sol da vida desapareceu.


A esperança existe, e a desesperança também, é você quem escolhe de qual lado quer ficar. Para ter a capacidade de enxergar o amanhã além das adversidades do hoje.

A jornada terrena é bem maior que os percalços que acontecem no decorrer da nossa trajetória, todo acontecimento é um sábio ensinamento do Autor do tempo


A VIDA Desde a Infância

Existem seres humanos tão extraordinários que aprendem as lições mais impressionantes nos momentos mais escuros da vida.

O paulista Luís Alberto Vaz, o Beto Vaz, nasceu na cidade de São Roque, e mora em Araçariguama desde criança. Ambas no interior paulista.


De família religiosa protestante composta por três irmãos, desde muito pequeno foi provado na dor, aos oito anos, perdeu o próprio pai de uma parada cardiorrespiratória, que possuía problemas com alcoolismo.

Apesar das intempéries da vida, o garoto Beto teve uma infância maravilhosa, mesmo morando em cidade pequena, não gostava de brincar na rua. Fascinado por jornalismo, sonho que ele alimentava desde menino, amava escrever e narrar jogos imaginários.

Quando voltava da escola, escalava times de futebol nos cadernos, chegou acumular mais de mil times com escalação e jogadores diferentes, tudo na imaginação. Conhecia os atletas e suas histórias de maneira fictícia. Além dos times, as brincadeiras de Vaz eram focadas no jornalismo, profissão a qual ele era encantado.

No início da adolescência jogava bola, soltava pipa, brincava como um adolescente normal. Aos 12 anos, Beto já demostrava ser um garoto muito centrado nos próprios objetivos, quando a mãe dele não iria à igreja ele ia sozinho de bicicleta. Na ausência do pai, aprendia os bons costumes com os mais velhos.


Com 16 anos engravidou uma moça, aos 17 tornou-se pai do primeiro filho, e passou a sustentar a própria família. Trabalhou em diversas áreas, como frigorífico, portaria (segurança) até conseguir emprego estável, e depois de muito tempo almejou fazer uma graduação.


Após dois relacionamentos, ambos com filhos, Beto conheceu a professora Rosana Guimarães, mãe da sua filha Vitória Gabrielly, o namoro durou alguns anos, e tempos depois aconteceu uma perda profunda.


A Perda Irreparável

O sol não avisa quando vai desaparecer e mesmo que ele fique escondido por alguns dias, continua brilhando além das nuvens.

As vidas de Beto Vaz e Rosana Guimarães seriam marcadas por uma dor profunda com perda irreparável.


Na sexta-feira, dia 08 de junho de 2018, ao chegar em casa da escola, Vitória Gabrielly de 12 anos que morava com a mãe, realizou algumas atividades domésticas, e ao terminar os afazeres, era costume a pré-adolescente ficar na casa da tia que morava ao lado.


Ao chegar do trabalho, por volta das 17h00, Rosana achou que a filha estivesse brincando com a sobrinha ao lado de casa, mas não estava.

O tempo ia passando e nada da garota aparecer, ao verificar que a menina não estava na casa da irmã, Rosana ligou para Beto que confirmou não estar com Vitória.


A professora ficou desesperada! A menina havia sumido. Beto saiu à procura da filha de carro e não a encontrou, Rosana publicou no Facebook que a estudante estava desaparecida, todos os amigos se mobilizaram para achar Gabrielly.


Na escola pela manhã, Vitória havia combinado para ir andar de patins com as amigas, porém, na hora do passeio todas desistiram, mas ela foi brincar sozinha, perto do ginásio de esportes da cidade.


Naquele mesmo dia, ela havia conversado bastante com o pai pelo messenger, pediu dinheiro para fazer um passeio que aconteceria no mês seguinte.

A polícia da cidade fez pouco caso e só começou a trabalhar no desaparecimento da jovem após a presença da mídia que repercutiu o fato nacionalmente.


Todos procuravam por Vitória Gabrielly desesperadamente, que antes foi dada como desaparecida.

Mas na semana seguinte, no sábado dia 16 de junho, à tarde, um catador de latinhas passava próximo ao matagal em que o corpo da vítima se encontrava.

O cachorro dele achou o corpo da garota amarrado em uma árvore com braços e pernas atados, e os patins rosa ao lado. Em Araçariguama, a quatro quilômetros de onde ela desapareceu.

A morte da moça comoveu o Brasil, ela foi morta por três homens e uma mulher, por engano. Os criminosos procuravam por outra Vitória.

Beto e Rosana ficaram dilacerados, não conseguiam dormir, nem comer, só tinham espaço para dor naquele momento. O sepultamento da doce menina foi no domingo dia 17, com a presença de duas mil pessoas.


A SUPERAÇÃO: ressignificação do sofrimento

A dor que transpassou o coração de Beto e Rosana foi indescritível, eles perderam o chão e a esperança no futuro. Por muitos dias, Rosana ficou sem acreditar que a filha realmente estava morta. Beto não saía de casa, não conseguia ir da porta para fora. A depressão dava sinais de que estava chegando na vida dele.


Porém, o paulista driblou o percalço e mesmo sem nenhum recurso financeiro, procurou fazer uma faculdade para ocupar a cabeça. Tempos depois, formou-se em marketing, apesar de sofrer a perda de Vitória, ressignificou a dor e o sofrimento.


Não existe cenário tenebroso que Deus não possa converter em alegria. Diante do acontecido, os pais de Vitória continuaram a jornada existencial. Não parar no meio do caminho é indispensável.

Beto é consolado pela confiança de que Vitória Gabrielly está com Deus, logo, está bem! Isso o faz ter coragem para viver e cuidar dos outros três filhos.

Beto e as crianças no Ginásio de Esportes, onde trabalha/Foto: arquivo pessoal


A VIDA nos DIAS Atuais


Atualmente, Beto Vaz, tem uma vida tranquila após tudo que aconteceu. Aos 38 anos, é casado e continua morando em Araçariguama. Como Servidor Público, exerce o cargo de Secretário Municipal de Esportes.


Trabalha com crianças no mesmo lugar onde Vitória foi vista com vida pela última vez. Transformar a vida das crianças que estão em sua volta, é uma forma de diminuir a dor e ressignificar a vida.

Luís Alberto Vaz, além de ser amigo de Deus, alimenta muitos sonhos em sua jornada: cursar psicologia, trabalhar na área de comunicação e no futuro próximo, pretende ir embora do Brasil, e ter os filhos sempre por perto.

Beto Vaz em um de seus primeiros registros de 2023/Foto: arquivo pessoal


Apaixonado por literatura ama escrever e viajar nos próprios escritos - eles expressam a essência e a identidade daquele jornalista que há muito tempo está escondido dentro de si mesmo. Há um bom tempo, apresenta na cidade, programas esportivos na Rádio Oeste Paulista.


Não existe problema irresolvível nem dor incurável, por trás de todo acontecimento há um propósito de misericórdia do Autor da Vida!




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