top of page
Foto do escritorJill Muricy

As Armadilhas da Saudade

Certo dia, fui visitar um lugar simples, onde meus avós maternos moraram no início dos anos 90. Uma casa humilde, à beira de um mato silencioso, defronte uma longa vereda de passagem de pessoas, dificilmente se via um carro.

Lugar mencionando no texto, na minha imaginação ele não estava assim/Foto: Jean Muricy



Eu amava passar os dias naquele lar. Ao recolocar meus pés no ambiente fui tomada de muitas lembranças da minha infância: as vezes que minha priminha e eu brincávamos embaixo daquelas árvores (que por incrível que pareça, estavam todas verdejantes, cada uma maior que a outra).

O belo canto dos pássaros era o mesmo, o vento e a brisa que envolviam meu corpo não sofreram qualquer alteração. Fiz uma longa viagem na minha imaginação: era tão bom quando eu frequentava aquela casa!


O mais impressionante de tudo: a casa não estava mais lá, caíra há muito tempo; só restavam os torrões e o tanque de cimento do quintal, mas tudo estava exatamente do mesmo jeito, somente na minha cabeça.


E nada mais estava como antes. Cheguei a uma sutil conclusão: a saudade nos engana. Sentimos saudade daquilo que não existe mais na realidade, e sim na nossa cabeça.


E nossa imaginação insiste em nos dizer com a saudade, que tudo está como antes, mas não está. Tudo passou, e se não vivemos o que nos foi oferecido naquele momento, não viveremos outra vez.


Por isso é importante aproveitarmos com toda intensidade o presente, pois nada se repete. As boas lembranças vou guardar dentro de mim, tomando como lição o fato de que nada se repete, não podemos viver o mesmo acontecimento duas vezes: tudo é único, eu havia me esquecido da exclusividade das coisas.


E nada melhor do que um dia como aquele que vivi: descobri que a saudade me enganou. TUDO HAVIA MUDADO. Eu sentia saudade de coisas que não existem mais. Então, pra quê a saudade?

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
Destaque
Tags
bottom of page